sábado, 25 de julho de 2009

Fazendo ecologia de verdade

(25/07/09)

Ecologia – do grego “oikos", “casa” e "logos", “estudo”. Ou seja estudo do local onde se vive e da interação do ser vivo com este ambiente.
Ela e seus derivados, ecológico, ecologicamente correto, dentre outros, tornaram-se palavras da moda, evocadas a torto e a direito, como sinônimo de preservação ambiental, de preocupação com o meio ambiente e de consciência para com o planeta. E em nome desta tal ecologia surgem a cada dia mais e mais programas de salvaguarda do planeta, tais como:

- Energia renovável : são as fontes de energia inesgotável e alternativas aos tradicionais petróleo, carvão, gás natural e energia nuclear, como a energia solar, a energia eólica ou dos ventos, a energia hidráulica, a energia maremotriz, a energia geotérmica, os biocombustíveis, etc...

- Reciclagem: é o reaproveitamento de material beneficiado, transformando-o em matéria prima para novos produtos, onde destacam-se os produtos de papel, vidro, metal e plástico.

- Reaproveitamento: é uso, em uma atividade, de material já utilizado em uma outra finalidade, sem que este material tenha que ser convertido em matéria prima.

- Consumo consciente: é consumir, de forma voluntária, apenas bens e produtos realmente necessários e nas quantidades efetivamente indispensáveis à vida.

- Sustentabilidade: é configurar as atividades humanas de forma a permitir o progresso e o desenvolvimento de forma planejada e organizada, sem que haja prejuízo para a biodiversidade e para os ecossistemas naturais.

- Neutralização de emissões de carbono: é a atividade voluntária que se propõe a implantar medidas que contrabalancem as emissões de carbono realizadas pelas atividades cotidianas de pessoas e empresas, de uma maneira geral através do reflorestamento e do uso de energia limpa.

Todos eles, e muitos outros, são programas louváveis, mas que não atingem o âmago da questão ambiental, o fator mais poluente de todos e que se encontra mascarado sob cada um dos itens acima, uma praga que infesta o planeta e vem destruindo sistematicamente cada metro quadrado do planeta: o homem e o seu suposto progresso.

Não existe nenhuma atividade humana “civilizada” que não seja altamente prejudicial ao planeta. Não importa sua convicção política ou religiosa, o tipo de sua dieta alimentar ou sua atitude face à ecologia: você é prejudicial ao planeta. O simples fato de ler este texto é prejudicial ao planeta.

Então a única atitude absolutamente correta em termos de ecologia é cada habitante deste planeta subir em uma torre armado de um rifle de longo alcance, matar de dez a vinte transeuntes incautos e em seguida suicidar-se. Porém, tenho poucas esperanças de que isso venha a ocorrer em um curto prazo.

Assim defendo algo menos radical, exeqüível e que é a única forma efetiva de respeito ao meio ambiente : controle de natalidade. Como na China, cada casal existente no planeta teria direito a ter apenas um filho. Paulatinamente a população mundial seria reduzida a níveis aceitáveis e naturalmente sustentáveis. Qualquer outra forma de sustentabilidade é ilusória, já que populações maiores gerarão consumos maiores de bens e energia. Hoje somos quase 7 bilhões de bocas, olhos, mentes e corpos ávidos por bens de consumo e alimentos, excretando quantidades astronômicas de lixo e dejetos. Até 2050 seremos 20 bilhões. Não há recursos suficientes para proporcionar os prazeres da vida moderna a essa quantidade absurda de gente.

Os economistas de plantão argumentariam que uma redução populacional acarretaria um colapso econômico-financeiro no mundo, com repercussões catastróficas. Porém a falta de recursos para viabilizar esta mesma economia, mais cedo ou mais tarde causará o mesmo efeito.

Desta forma, somente uma coisa é certa: a redução da população mundial é necessária e será realizada de qualquer forma. Se o homem não encontrar uma forma suave de harmonizar-se com a natureza, esta usará dos meios necessários para realizar tal harmonização, nem que seja necessária a utilização de suas mais extremas ferramentas: a fome, a peste, a guerra e a morte de alguns bilhões de pessoas.

Metades da laranja

(25/07/09)

Onde estará minha metade da laranja? O outro pé do meu chinelo? Minha alma gêmea? A pessoa que me completa? Minha razão de viver?
O imaginário popular está repleto de frases como estas. E qual o papel delas em nossa sociedade além de servirem como letra de musica brega e/ou sertaneja? Sendo frases tão populares e, com as devidas adaptações, universais na cultura ocidental, devem ter algum fundo de verdade. Pois bem, seu papel é, exatamente, alimentar uma ilusão; alimentar a esperança de que é possível preencher a lacuna existente dentro de cada pessoa que goza de sanidade neste planeta.
Qualquer um que tenha um mínimo conhecimento de Freud e Lacan sabe do que estou falando. Todos nós, neuróticos ( e neurótico aqui é uma coisa boa e normal, uma vez que quem não é neurótico será, por exclusão, psicótico) somos seres da falta, falta esta criada lá em nossa doce infância, quando finalmente constatamos que somos uma pessoa separada de nossas respectivas mães e não formamos com elas uma unidade. A partir daí, somos condenados a passar o resto de nossas vidas procurando esta parte faltante. Porém é exatamente esta falta que nos permitirá buscar nossos objetivos na vida. Sem ela, a única coisa que nos resta é a morte. Pronto, chega. Isso é o mais longe na teoria psicanalítica que irei me permitir chegar neste texto. Para maiores informações a referência são os autores acima citados. Vamos, pois, por outro caminho.
E qual a relação disso tudo com a história das metades da laranja? Toda relação! Percebemos nossa incompletude e dela queremos nos livrar, pois ela nos deixa “infelizes” e “incompletos”, ou “laranjas pela metade”. E qual a melhor forma de se livrar de algo que não é possível mudar? Eu conheço duas formas: a primeira é aceitar a deficiência. A segunda é responsabilizar alguém.
Aprender a ser feliz sendo incompleto é algo difícil, que, acredito eu, só é possível a custa de muita terapia, mas que é possível. Felicidade é algo que somente iremos encontrar dentro de cada um de nós. O processo inicia-se por aceitar nossas próprias limitações e trabalhar com elas da melhor maneira possível. É reconhecer as coisas boas que acontecem em nossas vidas e encarar as coisas ruins, não como uma “praga divina”, mas como eventos naturais da vida. É identificar aquilo que nos alegra e caminhar em direção a estas coisas. E na direção oposta de tudo aquilo que não nos faz bem. É viver cada dia da melhor forma possível, estando consciente de que haverá dias bons e outros não tão bons assim. É mudar a forma de encarar a vida, afinal, “felicidade não é uma estação de destino e sim uma forma de viajar”.
É pensar no outro como alguém que irá dividir parte de sua vida conosco, e não como a tábua de salvação do mar da infelicidade. Ninguém, exceto nós mesmos, tem este poder. Somente quando estivermos satisfeitos conosco, alguém que entra em nossas vidas pode somar alegrias e felicidades. Pelo outro lado, uma vez infelizes e insatisfeitos, acrescentar outra pessoa a esta equação só irá complicar as coisas.
A soma depende de serem ambos, individualmente, pessoas completas. Do contrário, o que teremos é uma subtração de energia, uma divisão dos escassos recursos e uma multiplicação da insatisfação. O grande lance é sermos duas laranjas vivendo juntas e não duas metades de laranja precariamente unidas por uma super-cola qualquer, mas em franco processo de apodrecimento.
Assim, a procura da “alma gêmea” e da “metade da laranja” é simplesmente um subterfúgio, uma fuga da grande responsabilidade de sermos seres “quase completos” em nós mesmos. É prostrar-se de joelhos, o coração em uma bandeja, e implorar ao outro que, de uma forma mágica e instantânea, modifique nossas vidas para melhor. É transferir a responsabilidade de nossa felicidade para o outro.
Procurar a sua metade da laranja em outra pessoa é como a busca do Santo Graal: pode até ser que alguém o ache, mas não existem provas de que alguém, até hoje, o tenha conseguido. Na verdade o melhor lugar para se procurar esta metade da laranja é onde menos se espera encontrar: dentro de nós mesmos.
Afinal, quando um relacionamento é baseado no princípio das metades de laranjas, só há duas alternativas plausíveis para desfecho: ou ele vira suco ou vai pro lixo.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Por que Aracaju?

(02/07/09)

Decidido, resolvido, executado: Vou mudar pra Aracaju. A partir deste momento “Por que Aracaju?” tem sido a pergunta que mais ouvi neste último ano.
E por que Aracaju? A resposta imediata é óbvia e fica difícil evitar o clichê, já que o clichê é a mais precisa representação da realidade: Aracaju é a capital brasileira de melhor qualidade de vida, é uma capital, com toda a infra-estrutura de uma capital, mas com um toque de cidade do interior, uma grande cidade, mas com jeito de cidade pequena, nordeste, praia, mar, sol,.São João e etc, etc e etc... Mas o óbvio é algo que não aprecio, assim prefiro responder de outra forma.

Então por que Aracaju?

Por causa do medo e da insegurança que vive sempre a rondar, pairando sobre nossa cabeça. Medo de assalto, da violência gratuita, de parar no sinal seja de dia, seja de noite, medo de perder tudo, até mesmo a vida, por conta de algum maluco que acredita que por alguns trocados vale a pena matar alguém. Medo de sair de casa, medo de estar em casa, do arrastão no condomínio, do vizinho desequilibrado, que defenestra a própria filha , da namorada ciumenta que atira antes e pergunta depois. Viver sob o fascínio do medo, temendo a tudo e a todos. Medo do pedestre na esquina, dos “amantes” do Datena, do drogado, do mendigo, do cara na motocicleta, medo até da própria sombra.

Por causa das grandes distâncias, nada é perto, tudo é longe, o tempo é curto, todo dia é a mesma correria, sempre o mesmo frenesi. Corre daqui, corre dali, corre de lá, corre de frente, corre de lado, pra no final do dia constatar que não se fez nada, exceto ficar cansado e, doido pra chegar em casa e ainda ter que enfrentar mais um capítulo daquele que foi seu “companheiro” de correria durante todo o dia: o trânsito. O trânsito infernal, que mais para do que anda, que desanda a rotina do sujeito, do rodízio, do calor, da opressão, do apressado no carro ao lado, que não desgruda a mão da buzina, como se isso fosse magicamente remover os setecentos automóveis a sua frente.

Por causa do povo frio e insensível, que perdeu a educação, que vê no cara ao lado só mais um concorrente, só mais um competidor, ou quem sabe, menos que isso, algo menos que um cachorro, a quem nem desprezo irá dispensar. Gente para quem um “bom dia” soa como palavrão, e responde ao cumprimento lhe xingado, ou pior, lhe ignorado. Gente que se diz civilizado, que se diz muito educado, que se orgulha do progresso, mas perdeu nesse processo toda e qualquer sombra de civilização.

Por causa do custo de vida, gigantesco e dilatado, onde o dinheiro fala mais alto, onde a vida é “grana”, grana a ganhar e grana pra gastar. Onde tudo é cobrado, onde a gentileza tem um preço, onde é só sair de casa e ligar o “taxímetro”, pois a vida é cobrada por minuto, ou quilômetro rodado, dentre os dois o que for mais alto. Onde até a balança da farmácia, que outrora podia ser usada de graça, hoje cobra um real pelo peso impreciso, demostrando em última instância, que você, um cliente em potencial, que um dia fora importante, que um dia brigavam por sua simpatia, hoje não passa de uma carteira ou bolsa aberta, uma fonte de receita, mais uma vítima a ser sugada pelo vampiro capitalista.

Espero que neste ponto, você, caro leitor, esteja se perguntando de que diabos eu estou falando, já que esta descrição não possui nenhuma semelhança com Aracaju.

E a resposta a tal pergunta é simples: não descrevi Aracaju. O retrato que tracei é de minha terra natal, São Paulo, de onde sai em direção a Aracaju exatamente por ser esta cidade a antítese do descrito, por não ter sido contaminada por este vírus do “progresso”, que transforma cidades em lixo e pessoas em detritos urbanos, desprezíveis e descartáveis.

Assim eu peço encarecidamente a todos vocês: não sigam o exemplo de São Paulo e outras grandes metrópoles, porque não são exemplos a serem seguidos. São exemplos de ilusão, onde, no final das contas, a única coisa que se ganha é a sensação de que todos saíram perdendo.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Amor, Paixão, Sexo e Casamento

(30/06/09)

Amor, paixão, sexo e casamento. Quatro coisas absolutamente diferentes, que não possuem nenhuma relação real umas com as outras, obrigadas a coexistirem e conviverem acorrentadas umas às outras em eterno conflito. E porquê? Talvez por ser melhor complicar do que facilitar.
É claro que para a argumentação ficar clara cabe, antes de mais nada definirmos o que cada uma daquelas “entidades” significa.

O amor
Comecemos, então com aquele que é, provavelmente, o mais difícil de definir entre os quatro: o Amor. E porque seria ele o de mais difícil difínição? Simplesmente porque todo mundo sabe com “absoluta certeza” o que é o amor, já que ele é cantado em prosa e verso pelos quatro cantos do planeta, porém de forma totalmente equivocada. É só ligar o rádio em qualquer emissora que lá está ele, contado sob a forma de uma história trágica onde “eu não existo longe de você”, o quanto eu sofro por você ter me deixado e como eu desejo que você me faça feliz.
É trágico, mas o ser humano adora o sofrimento! Mas isso é assunto para outra hora.
Assim, pensar que é possível sofrer por amor, que a ausência e a distância da pessoa amada é dolorosa e que a tristeza está associada a quem ama, é um sinal claro que a maioria absoluta das pessoas do planeta não faz a menor idéia do que seja verdadeiramente o amor.
Para começar, amor é um sentimento ou algo que se sente e que se sente por alguém. Mas o que é sentido quando se ama? Se sente afeição, carinho e afeto, um desejo incondicional de querer o bem, de querer a felicidade do “objeto” amado. E devo destacar aqui um ponto fundamental: querer o bem para o ser amado.
E é neste ponto que reside a diferença entre o senso comum e o amor de verdade. Amor é suave, é brando, é calmo, é singelo, é sereno, independe da distância e do tempo e, mais importante, independe de retribuição, já que é algo que emana daquele que ama, em direção ao ser amado. Não exige contrapartida, é unilateral e só depende daquele que ama.
O amor pode ter diversos alvos, mas a origem é sempre a mesma: o ser que ama. Desta forma frases como “amor entre homem e mulher” e “amor de mãe” perdem completamente o sentido. O amor é um só, independente de quem é amado: se é o filho, os pais, a esposa, o amigo ou a vizinha, o amor é sempre o mesmo, tem sempre a mesma origem e não depende do gênero, se masculino ou feminino, do ente amado.
Todas estas características fazem do amor um sentimento único, muito estável e de uma placidez sem par, não sujeito à variações súbitas e abruptas. Em resumo, é um “saco”.
E é este o motivo provável pelo qual o amor é confundido com emoções mais fortes e avassaladoras, como insegurança, ciúmes, falta de auto-estima, dor-de-cotovelo, possessividade, egoísmo e incontinência urinária, dentre outros. Ah sim, é claro, também é muito confundido com o nosso próximo item da lista: a paixão.

A paixão
Ah, a paixão. Esta sim é intensa, vigorosa, estremecedora. Assim como o amor ela é um sentimento, mas é desencadeado pelo fascínio que uma pessoa exerce sobre a outra. Este fascínio é decorrência da idealização que uma das pessoas cria sobre a outra, muitas vezes em decorrência de outras carências pré-existentes, já citadas, como insegurança e falta de amor próprio, ou, em outras palavras, a “síndrome do príncipe/princesa encantada”.
Enxerga-se no outro tudo aquilo que é necessário para realizar a própria completude, a parte faltante de si, a “metade da laranja” e outras tolices do gênero. E, diferentemente do amor, a paixão encerra em si o desejo pelo outro, da proximidade, e é claro, a necessidade de ser correspondido, uma vez que experimentar da “existência completa” é mais viciante que qualquer outra droga conhecida.
Vive-se sonhando com o ente “amado”, fantasiando suas qualidades, em constante devaneio, completamente absorto no “êxtase de ser amado”. E viver neste estado de completude gera euforia, alegria, endorfina e serotonina suficientes para encher uma piscina. Por outro lado, sua privação gerará tristeza, melancolia e inspiração para toda sorte de músicas sertanejas.
Porém, por ser produto de uma ilusão, tem data de expiração. Com o tempo rompe-se o véu da idealização e dá-se de cara com uma pessoa real, de carne e osso, com milhares de defeitos e um milionésimo das virtudes com que se sonhara. Neste momento a paixão se esvai, e tenha certeza, ela se esvairá. O que sobra pode ser o embrião de algo que poderá se transformar em amor, ou algo mais mesquinho, como a possessividade, ou um sentimento de “antes mal acompanhado do que só”, ou uma das infinitas variações sobre o tema, ou, quem sabe, nem isso.
Quase ia me esquecendo, a paixão, por possuir embutido em si o desejo dirigido a outra pessoa, está, também, intimamente relacionada ao nosso próximo tópico: o sexo.

O sexo
Sobre o sexo, acredito não haver uma grande necessidade de definições. É o desejo pela cópula, de aliviar a tensão sexual, de dar vazão ao “tesão”, de chegar um orgasmo, ou algo próximo disto.
Não há dependência a nenhum outro fator. É sempre casual: homem vê mulher, mulher vê homem, atração inexplicável e “bang”. Claro que se estiver vinculado à paixão, melhor, mas atire a primeira pedra aquele que nunca teve um desejo mais que secreto de fazer sexo com um completo desconhecido que viu passar pela rua?
Sexo é uma energia, é a pulsão que nos compele ao prazer, normalmente vinculado aos genitais, mas não necessariamente. E irá nos motivar a alcançar a satisfação imediata, quer estejamos acompanhados ou sós.
Desta forma, como uma espécie de antítese do amor, sexo tem como alvo a satisfação do próprio sujeito, independentemente do “objeto” que originará tal satisfação. Tanto o amor quanto o sexo são unidirecionais, porém, enquanto o amor encontra satisfação emanando de dentro para fora, sexo satisfaz-se de fora para dentro.

O casamento
Para fins desta discussão, casamento deve ser definido em um sentido mais amplo, onde envolve qualquer título dado a relacionamentos, como namoro, noivado, amasiamento, amancebamento, concubinato, todas as demais relações estáveis existentes no imenso rol, e é claro, o casamento propriamente dito.
Desta forma casamento, no sentido amplo da palavra, é a forma com que um casal dá à sociedade satisfações sobre a sua situação e relação íntima. É um título social, assumido publicamente para fins de rotulagem, ordenação e classificação das relações entre duas pessoas, decorrendo deste status conseqüências legais, sociais e religiosas.
É algo que não tem intercorrência direta nenhuma sobre o relacionamento, servindo apenas aos propósitos das convenções sociais. É, pois, um contrato, onde uma das cláusulas é a permissão da relação sexual entre os contratantes.
É uma forma de conter disputas sexuais inevitáveis entre pretendentes rivais, onde o primeiro a chegar estabelece o seu direito sobre a propriedade, dando-lhe respaldo legal para as sanções cabíveis contra o desafeto. É a garantia de direitos de junção de posses e partilha da propriedade comum ao casal. Do estabelecimento de tratados de paz e união de clãs e famílias. De envolver possíveis desafetos sob os laços de uma nova unidade familiar artificial.
Enfim, é uma convenção social, originada na sociedade, para a sociedade e visando o bem da sociedade, mas que muitas vezes está tão profundamente arraigada na coletividade que fica fácil confundi-la com algo necessário a um relacionamento.




Podemos assim observar que o ideal do amor romântico atualmente em voga nos impõe que estas quatro entidades andem juntas, apesar de antagônicas: pessoas tem que se casar com a pessoa que ama, permanecer a vida toda por ela apaixonada, ou re-apaixonar-se continuamente e prometer nunca mais ter relações sexuais com outras pessoas. Em suma, algo que, evidentemente, está fadado ao fracasso. E os pontos de atrito são bastante óbvios.
Amar não significa estar apaixonado, e, como conseqüência, também não significa querer proximidade e contato. Sei o quanto é polêmico afirmar isso, mas é possível amar uma ex-namorada, ex-marido, ou ex-qualquer-coisa, dedicar-lhe amor, sem que isso seja motivo para despertar ciúmes na pessoa com quem nos relacionamos hoje. Este amor é exatamente o mesmo amor que dedicamos a um irmão ou irmã, ou a um filho.
Por outro lado, amar uma pessoa não significa não poder apaixonar-se por outra. Sempre amaremos uma certa quantidade de pessoas durante nossa vida e nem por isso deixamos de nos apaixonar e de desejar outras pessoas. O que nos remete a algo ainda mais polêmico, que é desejar sexualmente outra pessoa.
Limitar a quantidade de parceiros sexuais àqueles que nos apaixonamos já é difícil. Impor tal limitação à somente aqueles que amamos é impossível e os resultados disso são traição, desilusão e mágoa.
A cultura que nos é imposta faz parecer natural vincularmos paixão, amor, casamento e sexo, porém a prática demonstra exatamente o contrário. Juras de amor, votos de fidelidade e declarações apaixonadas são lançadas ao ar todos os dias pelas mesmas pessoas que tempos depois estarão “traindo” seus consortes.
Trair significa quebrar um pacto previamente estabelecido. Mas em última análise a única pessoa que realmente sofre uma traição é aquela que estabelece para si um pacto que não poderá cumprir.

Talvez fosse muito mais saudável e sincero admitir a verdadeira natureza humana e parar de imaginar situações utópicas nas quais as pessoas conseguiriam seguir convenções somente pelo fato delas existirem. Seriam poupadas muitas dores, desilusões, tristezas e lenços de papel.